O mandamento que impera em Vegas, todos sabem é, “o que acontece em Vegas fica em Vegas". Como não sigo ordens ou religião, caguei pro mandamento.
Ao sair do banho, enquanto me enxugava, ouvia a bagunça sendo feita pelo meu companheiro de quarto. Era Steve que chegara com as vitaminas. Saí do banheiro e o cumprimentei . Steve trabalhava na empresa que prestava serviços à empresa em que eu trabalhava. Chamei Steve para me ajudar com um probleminha. Então ele aproveitou para nos fazer uma visita e trazer souvenirs.
- “Hei Steve, como está ?”- foi uma boa surpresa vê-lo em nosso quarto.
- “Opa, tudo certo.”- respondia Steve meio ressabiado, então meu parceiro emendou:
- “Tudo certo mesmo, Steve, ele é um dos nossos.”- ajudara o clima, pois, como dizia, éramos amigos de business, mas o business agora era outro.
A mesa de escritório do quarto do hotel agora segurava, além de abajures, tomadas, garrafas de Jack Daniels e gelo, seis lindas e estreitas fileiras de super tônico, o mesmo tonico de peroba para pica paus que dá super força, mas esse não era para pica paus, era para as almas abertas de gente que não se enquadra no formato social que o mundo propõem aos seus cidadãos.
Descemos para o cassino e agora eu passava a ser o observador. Os grandes hotéis cassinos de Vegas são gigantes, locais recheados de gente, gente de todo tipo, na maioria turistas de todo mundo, na maioria aposentados procurando passar seu tempo, na maioria jogadores viciados, na maioria rapazes buscando por entretenimento adulto, na maioria prostitutas dos mais diversos tipos de corpos embrulhadas em vestidos curtíssimos e saltos gigantes, na maioria grupos de garotas tentando se divertir. Vegas já é relaxante apenas pelo fato de poder beber em público e fumar em locais fechados. Sempre que tenho contato com um local comento o quanto me agrada estar em uma cidade que permite beber e dirigir, mas o faço apenas para me divertir com as mais diversas reações.
E ali estávamos dentro do cassino tentando achar nosso caminho. Deveria deixar um barbante amarrado na porta do quarto toda vez que saísse para ter como voltar. Levamos provavelmente mais de 20 minutos para sair, perguntando a todos tipos de funcionários pela saída sem sucesso. O rosto das pessoas passando e se esbarrando se distorcia enquanto as luzes trocavam sua intensidade. Em um grande hotel em Vegas é comum não conseguir voltar ao quarto e ficar por ali mesmo alimentando os caixas de Vegas.
Conseguimos então achar nosso destino, um bar de cassino com lindas bartenders conhecidas de nosso amigo. Pessoas e conexões, como toda cidade que se preze. Tomamos nossos drinks enquanto os elétricos colegas conversavam com Linda. Linda era uma linda mulata de 1,66 de altura , cabelos lisos e dentes muito bem cuidados em um belo sorriso. Linda e Steve foram então tratar de business enquanto eu e meu parceiro partíamos para o segundo drink.
As luzes de Vegas nunca brilharam tanto para mim, e logo voltara nosso colega nos chamando para irmos. Irmos onde não era do meu interesse, eu era o gringo, o convidado, o observador. Foi comentado mais cedo um bar que parecia bacana, com música ao vivo de rockabilly, seria divertido. Então saimos a frente do hotel. Na entrada e passagem de automóveis que vinham para desembarque, embarque, estacionamento, etc. Alí, em nossa frente, parou um belo Mercedes de duas portas, de onde saiu um interessantíssimo espécime feminino de raça Filipina. Alí estava Debbie, pronta para nos levar a um passeio até seu local de trabalho. No caminho, regressamos ao quarto de hotel, pois me lembrava claramente de meia garrafa de Jack Daniels deixada para trás. Steve preparava a mesa enquanto eu tentava conectar o som sem sucesso e meu parceiro buscava mais gelo e copos. Tínhamos encomendado uma bela quantia da mais fina e milagrosa forma de anestesiar qualquer que fosse a angústia e preocupação dos próximos dias. Os corredores se contorciam ao nosso redor em um labirinto de passagens por entre eu, Steve e sua deliciosa e divertida Filipina, Debbie. Meu parceiro havia ficado para tratar alguns negócios com Amanda e nos encontraríamos mais tarde. Fomos levar Debbie para seu trabalho em seu Mercedes de duas portas e seis cilindros sem colunas nas janelas por entre os luminosos até a Industrial, apenas mais uma de tantas ruas famosas pelas suas casas de strip.
Debbie saltou do carro para as portas dos fundos de seu local de trabalho enquanto eu e Steve tratávamos de nos drogar abaixo do viaduto naquele belo Mercedes. Steve estava meio fudido, perdeu seu trabalho após se envolver em uma briga de bar e passar 3 dias no xadrez. Steve era sim um dos nossos, uma bela alma, um poeta do guetto, um fudido pelo sistema. A razão de sua vinda a Vegas foi um trabalho de free lancer. Eu contratara Steve para dar um jeito em meu carro de ar condicionado quebrado. Não mencionei o fato do ar condicionado quebrado com receio que ele pudesse desistir do trampo. Eu realmente não estava afim de atravessar o deserto até Los Angeles naquele grande e pesado lixo sobre rodas, e seria um desafio encorajado com a ajuda de substâncias para Steve. Mas agora ele era meu anfitrião. Me levara para ver um belo strip tease de sua garota Debbie. Eramos vips, nem bebida pagávamos, mas éramos gentis com as gorjetas.
A porta se abriu,e mais escuridão nos esperava. Luzes lasers cortavam o ar acima de nossas cabeças, palcos individuais se espalhavam pelo saguão aberto, com poltronas rodeando-os e pequenas mesas que seguravam copos e cinzeiros. Sentamo-nos nas poltronas ao lado de um desses palcos e ficamos apreciando um strip que a loira de quadril avantajado fazia para um jovem cliente que continuava a enfeitar sua micro calcinha com notas de dólares. Putas de diferentes espécies vinham a Steve, o cumprimentavam, sentavam em seu colo, sussurravam em seu ouvido, outras vinham a mim, mas eu apenas sussurrava um agradecimento à sua preocupação em me entreter, eu queria mesmo era observar as dançarinas espalhadas dançando entre arco-iris de luzes negras e seus clientes se embasbacando com os corpos se contorcendo em barras cromadas de poly dance. Debbie chegou então para seu pequeno show, tudo bem, mostre o seu mel garota, estamos aqui para desfrutar, não é isso ? Mas sem encostar a mão, é extremamente proibido encostar nas garotas, e a lei ainda diz mais: uma casa de entretenimento adulto que vende álcool e cigarros está proibida de permitir o nudismo completo de suas funcionárias, então se você achar uma casa que permite o nú completo, é porque só vendem refrigerantes e drinks virgens. Na verdade não sei qual o sentido disso tudo, e questionar comigo mesmo a respeito trouxe uma preocupação a meus anfitriões. Debbie veio perguntar se eu estava gostando. Claro que afirmei agradecendo sua atenção e elogiando seu belo corpo. Pode ser que seja uma alucinação entre tantas, Debbie era muito atraente enquanto vestida, mas aquele local transformava as mulheres e eu acabava só vendo seus defeitos. Too much drugs, provavelmente. A questão é que não vejo sentido em uma bela mulher exibindo seus seios para mim, ou rebolando seu traseiro a 30 centímetros da minha cara. Para fazer sentido eu deveria ter a permissão de enfiar minha lingua em seu ânus, lamber seu corpo e sentir seu odor suado de dançarina. Ficar sentado jogando notas de dólares sem mal poder se mexer é ridículo, deixo isso para os babacas, prefiro acertar uma quantia justa para ambas as partes e ter uma bela foda, inundada de amor como merece um belo corpo feminino e a mulher presa a ele.
Steve anunciava a vinda de um amigo que traria substâncias. Claro, fiz questão de fazer minha contribuição e esperar o dealer já que o pusher estava comigo. Pez chegou logo em seguida, Steve nos apresentou, cumprimentamo-nos já com a mão recheada do produto encomendado. Pez é um cara grande, alto e largo, jeito latinão de boné estilo beisebol com a aba logo acima dos olhos. Pez gostava de falar e se exibir com coisas e histórias. Certamante um sujeito interessante para guardar em minha coleção e imortalizar em minhas histórias. O ingles de guetto entre meus dois novos amigos era quase imcompreensível para mim, mas não me importava, eu era o apreciador com os bolsos recheados de alguma das mais eficientes drogas por mim já provadas. Agora a idéia era manter as luzes de Vegas mais brilhantes do que realmente eram. Então fui me aliviar no banheiro antes de sairmos para um próximo destino.
Chegando ao estacionamento em frente Pez abrira o porta malas de seu Cadillac para exibir alguns de seus brinquedos à Steve. Ficou óbvio a 45 abaixo do carpete, mas me chamou a atenção um case que parecia recheado com coisinhas mais potentes. Escorreguei imediatamente para dentro do confortável banco traseiro do Cadillac esperando pela continuação da história. Pez conhecia todos strip clubs de Vegas e tinha suas conexões vips para nós, sempre bem tratados, minha mão não passaria um minuto sequer sem um copo ou garrafa. Pez gostava de falar sobre seu Cadillac, tirar vantagem sobre o valor baixo que pagou por ele e como iria vendê-lo. Era um de seus negócios a compra e venda de veículos usados.
Fomos a mais um clube, não me atraia e eu não via graça, apenas desfrutava dos efeitos de tudo que estava em mim. Fomos para trás, sentamos no balcão, Pez me passou uma cerveja enquanto tratava assuntos com o barman. A casa era gigante, música alta, luzes vermelhas, garotas para todo lado, mas saímos antes mesmo de terminarmos nossas bebidas. O clube era em alguma esquina da strip pelo lado norte da cidade. Saímos porque Pez tinha outros negócios para tratar, parecia ter recebido um telefonema, então tomamos a freeway para o lado sul, passando cassinos grandes como Luxor e Mandalay, acabamos em um suburbio residencial, e ficamos procurando um endereço específico onde Pez deveria fazer uma visita rápida. Levou algum esforço, mas conseguiram. Lembro de nào ter condições nem de lembrar, era tudo muito bonito, mas uma coisa me chamara a atenção, carros de polícia, e mesmo não devendo nada não gosto de polícia ao meu redor, não fico tranquilo. Reparei muitas viaturas em nosso caminho, mas não acreditei nelas.
Paramos em frente a uma casa como qualquer outra do suburbio de classe media, Pez entrou e levou seus 15 minutos até voltar com bagas de comprimidos de todos tipos. Recusei com educação, poderia ser demais e eu já me sentia bem o suficiente. Na volta fomos observando o movimento dos tiras, um negro parado sendo interrogado no lado oposto da rua, outro carro a espreita escondido no drive thru do banco, eu confiava em meus colegas locais, e eles estavam mais atentos que eu, que na verdade, nem tava me fodendo muito pra aquilo. Fomos para a principal, para a Las Vegas Blvd, no trecho sul em meio ao deserto, até que Steve e Pez discutem rápido sobre onde e como encostar, ou como proceder, e eu nem me toquei até que senti a forte luz azul girando por dentro dos estofamentos de couro do Cadillac.
Sim, era a polícia que havia nos parado, mas minha ficha não havia caído, apesar de estar limpa, já sobre os companheiros eu não sabia. Pez rapidamente passou as instruções para Steve, que dirigia o carro, “você está dirigindo porque bebí, ok ?” Veio o tira e pediu para baixar todos vidros. Armado de sua lanterna checou o carro e nossos rostos, perguntou pela licença do veículo que estava sem placa.
- “Sim senhor, tenho a licença, aqui está”
- “Por que ele está dirigindo seu carro ?”
- “Eu bebí, então pedi para ele dirigir
- Você tem antecedentes criminais ?
- Peguei 6 anos na penitência da Califórnia, mas estou limpo”
- Você está armado ?
- Tenho uma 45 no porta malas, gostaria de checar ?
- Passe a carta de habilitação
- E você aí ? – se referindo a Steve.
- Estou limpo senhor.
- Você bebeu ?
- Não senhor.
- Antecedentes criminais ?
- Cumpri 4 anos em New Jersey por porte e tráfico
- Documentos.
Nesse momento chegara minha vez através de outro tira.
- Você está armado ?
- Não senhor. – respondí
- Seu documento – passei o passaporte, e Pez acrescentou:
- Ele é brasileiro senhor, está de passeio.
Os polícia então regressaram à sua viatura me deixando com meus pensamentos. Eu estava frio como uma geladeira, pronto para o que viesse. Agora mandava tudo a merda, a vida estava pronta a ir por agua abaixo, só precisando que um tira acionasse a descarga. Seria uma nova experiência, talvez uma nova história, talvez todo um livro. Uma prisão, provavelmente seria deportado assim que pegassem toda substância que estava em meus bolsos. Então Pez virou para mim.
- Ei cara, você ainda tem aquela merda nos bolsos ?
- Está aqui.
- Disfarçadamente tire dos bolsos e enfie nos pés, por dentro das meias.
A lei americana não é tão burocrática quanto a brasileira, a corrupção dá a impressão de não existir,os policiais agem de forma correta. Enfiei minhas coisas por dentro da meia como sugerido, pois se derem uma batida não vão olhar as meias. Ainda bem que eu tinha meu passaporte comigo, um passaporte brasileiro hoje pode ser seu ingresso para a liberdade, pois o Brasil é o país da moda e todos amam os brasileiros.
Um policial voltou até Pez e lhe devolveu os documentos !! Estávamos livres novamente. Ao contar isso a outros americanos, eles realmente não acreditaram que nem sequer o porta malas pediram para abrir. Deviam ser uns tiras bundas pra caralho. Bem, eramos brancos, e tudo que relatamos era verdade, e nossas caras talvez fossem bem intimidadoras, quem me conhece sabe que não tenho cara de bonzinho, nem de bom camarada, o que sempre foi bom para me manter longe de encrenca. A encrenca me olha mas não me encara. Já tem o outro lado da moeda, pois assim como a encrenca se afasta, o fazem também as mulheres. Se for depender do xaveco, estrago tudo lá pelo terceiro ou quarto shot….
O que importa é que estávamos livres e indo direto ao Crazy Horse. Mais shots, mais cervejas, mais cocaína, mais cigarros, mais dançarinas semi nuas. Já não conseguia identificar meu próprio estado, estava travado e feliz pelas luzes viciantes de Vegas. Tudo acontecia, Steve adorava ficar xavecando as putas, e elas também apreciavam, e Pez se exibindo, me mostrando fotos de suas garotas , quer uma garota agora man ? A que você quiser, é por minha conta, mas eu, por mais travado que estivesse conseguia recusar, Deus me livre dever qualquer favor para um traficante de Las Vegas, cidade que frequento por cinco ou mais vezes ao ano.
Voltamos ainda ao primeiro lugar, pois Steve foi buscar Debbie, pulamos de Caddi para Merça, tomamos Debbie e voamos para o hotel. O filho da puta do meu parceiro conseguira dar suas fodas e fora dormir. No corredor, Debbie deu uma voadora na porta de funcionarios para a lavanderia, e eu não aguentei:
- “Esse é seu melhor ?”- indaguei e continuei
- “Chutar uma porta de lavanderia?, Porque não chuta as portas dos quartos?”- e ela o fez, e saiu correndo. Parou e olhou para mim,.
- “Você não vai correr?”- ela perguntou
- “Mas porque eu correria se o melhor seria dar de cara com um hóspede e enfrentá-lo, algum problema ?”
Isso é las Vegas, os hóspedes não vão se incomodar com a voadora em sua porta, porque já sabem do que se trata e já sabem a encrenca que os espera, isso é Las Vegas.
Fomos para o quarto fazer o lixo que nos era esperado fazer, me enfiei em meu pijama da Guinness, havaianas, e pronto para buscar mais coca no cassino, meus companheiros respeitavam minha personalidade, gelo e coca cola para acompanhar enquanto Steve pulava na cama de meu parceiro, enquanto Debbie gritava enlouquecida, enquanto eu apreciava tudo com amor, afinal tenho muito carinho por essa gente. A festa foi adiante, a noite virou dia que virou noite. Não é sobre ser contraventor de porra de lei nenhuma, é sobre ser verdadeiro, é sobre afeto , é sobre pobres almas perdidas, carencia e respeito. Infelizmente pouca gente hoje sabe o que significa tudo isso.
Ao sair do banho, enquanto me enxugava, ouvia a bagunça sendo feita pelo meu companheiro de quarto. Era Steve que chegara com as vitaminas. Saí do banheiro e o cumprimentei . Steve trabalhava na empresa que prestava serviços à empresa em que eu trabalhava. Chamei Steve para me ajudar com um probleminha. Então ele aproveitou para nos fazer uma visita e trazer souvenirs.
- “Hei Steve, como está ?”- foi uma boa surpresa vê-lo em nosso quarto.
- “Opa, tudo certo.”- respondia Steve meio ressabiado, então meu parceiro emendou:
- “Tudo certo mesmo, Steve, ele é um dos nossos.”- ajudara o clima, pois, como dizia, éramos amigos de business, mas o business agora era outro.
A mesa de escritório do quarto do hotel agora segurava, além de abajures, tomadas, garrafas de Jack Daniels e gelo, seis lindas e estreitas fileiras de super tônico, o mesmo tonico de peroba para pica paus que dá super força, mas esse não era para pica paus, era para as almas abertas de gente que não se enquadra no formato social que o mundo propõem aos seus cidadãos.
Descemos para o cassino e agora eu passava a ser o observador. Os grandes hotéis cassinos de Vegas são gigantes, locais recheados de gente, gente de todo tipo, na maioria turistas de todo mundo, na maioria aposentados procurando passar seu tempo, na maioria jogadores viciados, na maioria rapazes buscando por entretenimento adulto, na maioria prostitutas dos mais diversos tipos de corpos embrulhadas em vestidos curtíssimos e saltos gigantes, na maioria grupos de garotas tentando se divertir. Vegas já é relaxante apenas pelo fato de poder beber em público e fumar em locais fechados. Sempre que tenho contato com um local comento o quanto me agrada estar em uma cidade que permite beber e dirigir, mas o faço apenas para me divertir com as mais diversas reações.
E ali estávamos dentro do cassino tentando achar nosso caminho. Deveria deixar um barbante amarrado na porta do quarto toda vez que saísse para ter como voltar. Levamos provavelmente mais de 20 minutos para sair, perguntando a todos tipos de funcionários pela saída sem sucesso. O rosto das pessoas passando e se esbarrando se distorcia enquanto as luzes trocavam sua intensidade. Em um grande hotel em Vegas é comum não conseguir voltar ao quarto e ficar por ali mesmo alimentando os caixas de Vegas.
Conseguimos então achar nosso destino, um bar de cassino com lindas bartenders conhecidas de nosso amigo. Pessoas e conexões, como toda cidade que se preze. Tomamos nossos drinks enquanto os elétricos colegas conversavam com Linda. Linda era uma linda mulata de 1,66 de altura , cabelos lisos e dentes muito bem cuidados em um belo sorriso. Linda e Steve foram então tratar de business enquanto eu e meu parceiro partíamos para o segundo drink.
As luzes de Vegas nunca brilharam tanto para mim, e logo voltara nosso colega nos chamando para irmos. Irmos onde não era do meu interesse, eu era o gringo, o convidado, o observador. Foi comentado mais cedo um bar que parecia bacana, com música ao vivo de rockabilly, seria divertido. Então saimos a frente do hotel. Na entrada e passagem de automóveis que vinham para desembarque, embarque, estacionamento, etc. Alí, em nossa frente, parou um belo Mercedes de duas portas, de onde saiu um interessantíssimo espécime feminino de raça Filipina. Alí estava Debbie, pronta para nos levar a um passeio até seu local de trabalho. No caminho, regressamos ao quarto de hotel, pois me lembrava claramente de meia garrafa de Jack Daniels deixada para trás. Steve preparava a mesa enquanto eu tentava conectar o som sem sucesso e meu parceiro buscava mais gelo e copos. Tínhamos encomendado uma bela quantia da mais fina e milagrosa forma de anestesiar qualquer que fosse a angústia e preocupação dos próximos dias. Os corredores se contorciam ao nosso redor em um labirinto de passagens por entre eu, Steve e sua deliciosa e divertida Filipina, Debbie. Meu parceiro havia ficado para tratar alguns negócios com Amanda e nos encontraríamos mais tarde. Fomos levar Debbie para seu trabalho em seu Mercedes de duas portas e seis cilindros sem colunas nas janelas por entre os luminosos até a Industrial, apenas mais uma de tantas ruas famosas pelas suas casas de strip.
Debbie saltou do carro para as portas dos fundos de seu local de trabalho enquanto eu e Steve tratávamos de nos drogar abaixo do viaduto naquele belo Mercedes. Steve estava meio fudido, perdeu seu trabalho após se envolver em uma briga de bar e passar 3 dias no xadrez. Steve era sim um dos nossos, uma bela alma, um poeta do guetto, um fudido pelo sistema. A razão de sua vinda a Vegas foi um trabalho de free lancer. Eu contratara Steve para dar um jeito em meu carro de ar condicionado quebrado. Não mencionei o fato do ar condicionado quebrado com receio que ele pudesse desistir do trampo. Eu realmente não estava afim de atravessar o deserto até Los Angeles naquele grande e pesado lixo sobre rodas, e seria um desafio encorajado com a ajuda de substâncias para Steve. Mas agora ele era meu anfitrião. Me levara para ver um belo strip tease de sua garota Debbie. Eramos vips, nem bebida pagávamos, mas éramos gentis com as gorjetas.
A porta se abriu,e mais escuridão nos esperava. Luzes lasers cortavam o ar acima de nossas cabeças, palcos individuais se espalhavam pelo saguão aberto, com poltronas rodeando-os e pequenas mesas que seguravam copos e cinzeiros. Sentamo-nos nas poltronas ao lado de um desses palcos e ficamos apreciando um strip que a loira de quadril avantajado fazia para um jovem cliente que continuava a enfeitar sua micro calcinha com notas de dólares. Putas de diferentes espécies vinham a Steve, o cumprimentavam, sentavam em seu colo, sussurravam em seu ouvido, outras vinham a mim, mas eu apenas sussurrava um agradecimento à sua preocupação em me entreter, eu queria mesmo era observar as dançarinas espalhadas dançando entre arco-iris de luzes negras e seus clientes se embasbacando com os corpos se contorcendo em barras cromadas de poly dance. Debbie chegou então para seu pequeno show, tudo bem, mostre o seu mel garota, estamos aqui para desfrutar, não é isso ? Mas sem encostar a mão, é extremamente proibido encostar nas garotas, e a lei ainda diz mais: uma casa de entretenimento adulto que vende álcool e cigarros está proibida de permitir o nudismo completo de suas funcionárias, então se você achar uma casa que permite o nú completo, é porque só vendem refrigerantes e drinks virgens. Na verdade não sei qual o sentido disso tudo, e questionar comigo mesmo a respeito trouxe uma preocupação a meus anfitriões. Debbie veio perguntar se eu estava gostando. Claro que afirmei agradecendo sua atenção e elogiando seu belo corpo. Pode ser que seja uma alucinação entre tantas, Debbie era muito atraente enquanto vestida, mas aquele local transformava as mulheres e eu acabava só vendo seus defeitos. Too much drugs, provavelmente. A questão é que não vejo sentido em uma bela mulher exibindo seus seios para mim, ou rebolando seu traseiro a 30 centímetros da minha cara. Para fazer sentido eu deveria ter a permissão de enfiar minha lingua em seu ânus, lamber seu corpo e sentir seu odor suado de dançarina. Ficar sentado jogando notas de dólares sem mal poder se mexer é ridículo, deixo isso para os babacas, prefiro acertar uma quantia justa para ambas as partes e ter uma bela foda, inundada de amor como merece um belo corpo feminino e a mulher presa a ele.
Steve anunciava a vinda de um amigo que traria substâncias. Claro, fiz questão de fazer minha contribuição e esperar o dealer já que o pusher estava comigo. Pez chegou logo em seguida, Steve nos apresentou, cumprimentamo-nos já com a mão recheada do produto encomendado. Pez é um cara grande, alto e largo, jeito latinão de boné estilo beisebol com a aba logo acima dos olhos. Pez gostava de falar e se exibir com coisas e histórias. Certamante um sujeito interessante para guardar em minha coleção e imortalizar em minhas histórias. O ingles de guetto entre meus dois novos amigos era quase imcompreensível para mim, mas não me importava, eu era o apreciador com os bolsos recheados de alguma das mais eficientes drogas por mim já provadas. Agora a idéia era manter as luzes de Vegas mais brilhantes do que realmente eram. Então fui me aliviar no banheiro antes de sairmos para um próximo destino.
Chegando ao estacionamento em frente Pez abrira o porta malas de seu Cadillac para exibir alguns de seus brinquedos à Steve. Ficou óbvio a 45 abaixo do carpete, mas me chamou a atenção um case que parecia recheado com coisinhas mais potentes. Escorreguei imediatamente para dentro do confortável banco traseiro do Cadillac esperando pela continuação da história. Pez conhecia todos strip clubs de Vegas e tinha suas conexões vips para nós, sempre bem tratados, minha mão não passaria um minuto sequer sem um copo ou garrafa. Pez gostava de falar sobre seu Cadillac, tirar vantagem sobre o valor baixo que pagou por ele e como iria vendê-lo. Era um de seus negócios a compra e venda de veículos usados.
Fomos a mais um clube, não me atraia e eu não via graça, apenas desfrutava dos efeitos de tudo que estava em mim. Fomos para trás, sentamos no balcão, Pez me passou uma cerveja enquanto tratava assuntos com o barman. A casa era gigante, música alta, luzes vermelhas, garotas para todo lado, mas saímos antes mesmo de terminarmos nossas bebidas. O clube era em alguma esquina da strip pelo lado norte da cidade. Saímos porque Pez tinha outros negócios para tratar, parecia ter recebido um telefonema, então tomamos a freeway para o lado sul, passando cassinos grandes como Luxor e Mandalay, acabamos em um suburbio residencial, e ficamos procurando um endereço específico onde Pez deveria fazer uma visita rápida. Levou algum esforço, mas conseguiram. Lembro de nào ter condições nem de lembrar, era tudo muito bonito, mas uma coisa me chamara a atenção, carros de polícia, e mesmo não devendo nada não gosto de polícia ao meu redor, não fico tranquilo. Reparei muitas viaturas em nosso caminho, mas não acreditei nelas.
Paramos em frente a uma casa como qualquer outra do suburbio de classe media, Pez entrou e levou seus 15 minutos até voltar com bagas de comprimidos de todos tipos. Recusei com educação, poderia ser demais e eu já me sentia bem o suficiente. Na volta fomos observando o movimento dos tiras, um negro parado sendo interrogado no lado oposto da rua, outro carro a espreita escondido no drive thru do banco, eu confiava em meus colegas locais, e eles estavam mais atentos que eu, que na verdade, nem tava me fodendo muito pra aquilo. Fomos para a principal, para a Las Vegas Blvd, no trecho sul em meio ao deserto, até que Steve e Pez discutem rápido sobre onde e como encostar, ou como proceder, e eu nem me toquei até que senti a forte luz azul girando por dentro dos estofamentos de couro do Cadillac.
Sim, era a polícia que havia nos parado, mas minha ficha não havia caído, apesar de estar limpa, já sobre os companheiros eu não sabia. Pez rapidamente passou as instruções para Steve, que dirigia o carro, “você está dirigindo porque bebí, ok ?” Veio o tira e pediu para baixar todos vidros. Armado de sua lanterna checou o carro e nossos rostos, perguntou pela licença do veículo que estava sem placa.
- “Sim senhor, tenho a licença, aqui está”
- “Por que ele está dirigindo seu carro ?”
- “Eu bebí, então pedi para ele dirigir
- Você tem antecedentes criminais ?
- Peguei 6 anos na penitência da Califórnia, mas estou limpo”
- Você está armado ?
- Tenho uma 45 no porta malas, gostaria de checar ?
- Passe a carta de habilitação
- E você aí ? – se referindo a Steve.
- Estou limpo senhor.
- Você bebeu ?
- Não senhor.
- Antecedentes criminais ?
- Cumpri 4 anos em New Jersey por porte e tráfico
- Documentos.
Nesse momento chegara minha vez através de outro tira.
- Você está armado ?
- Não senhor. – respondí
- Seu documento – passei o passaporte, e Pez acrescentou:
- Ele é brasileiro senhor, está de passeio.
Os polícia então regressaram à sua viatura me deixando com meus pensamentos. Eu estava frio como uma geladeira, pronto para o que viesse. Agora mandava tudo a merda, a vida estava pronta a ir por agua abaixo, só precisando que um tira acionasse a descarga. Seria uma nova experiência, talvez uma nova história, talvez todo um livro. Uma prisão, provavelmente seria deportado assim que pegassem toda substância que estava em meus bolsos. Então Pez virou para mim.
- Ei cara, você ainda tem aquela merda nos bolsos ?
- Está aqui.
- Disfarçadamente tire dos bolsos e enfie nos pés, por dentro das meias.
A lei americana não é tão burocrática quanto a brasileira, a corrupção dá a impressão de não existir,os policiais agem de forma correta. Enfiei minhas coisas por dentro da meia como sugerido, pois se derem uma batida não vão olhar as meias. Ainda bem que eu tinha meu passaporte comigo, um passaporte brasileiro hoje pode ser seu ingresso para a liberdade, pois o Brasil é o país da moda e todos amam os brasileiros.
Um policial voltou até Pez e lhe devolveu os documentos !! Estávamos livres novamente. Ao contar isso a outros americanos, eles realmente não acreditaram que nem sequer o porta malas pediram para abrir. Deviam ser uns tiras bundas pra caralho. Bem, eramos brancos, e tudo que relatamos era verdade, e nossas caras talvez fossem bem intimidadoras, quem me conhece sabe que não tenho cara de bonzinho, nem de bom camarada, o que sempre foi bom para me manter longe de encrenca. A encrenca me olha mas não me encara. Já tem o outro lado da moeda, pois assim como a encrenca se afasta, o fazem também as mulheres. Se for depender do xaveco, estrago tudo lá pelo terceiro ou quarto shot….
O que importa é que estávamos livres e indo direto ao Crazy Horse. Mais shots, mais cervejas, mais cocaína, mais cigarros, mais dançarinas semi nuas. Já não conseguia identificar meu próprio estado, estava travado e feliz pelas luzes viciantes de Vegas. Tudo acontecia, Steve adorava ficar xavecando as putas, e elas também apreciavam, e Pez se exibindo, me mostrando fotos de suas garotas , quer uma garota agora man ? A que você quiser, é por minha conta, mas eu, por mais travado que estivesse conseguia recusar, Deus me livre dever qualquer favor para um traficante de Las Vegas, cidade que frequento por cinco ou mais vezes ao ano.
Voltamos ainda ao primeiro lugar, pois Steve foi buscar Debbie, pulamos de Caddi para Merça, tomamos Debbie e voamos para o hotel. O filho da puta do meu parceiro conseguira dar suas fodas e fora dormir. No corredor, Debbie deu uma voadora na porta de funcionarios para a lavanderia, e eu não aguentei:
- “Esse é seu melhor ?”- indaguei e continuei
- “Chutar uma porta de lavanderia?, Porque não chuta as portas dos quartos?”- e ela o fez, e saiu correndo. Parou e olhou para mim,.
- “Você não vai correr?”- ela perguntou
- “Mas porque eu correria se o melhor seria dar de cara com um hóspede e enfrentá-lo, algum problema ?”
Isso é las Vegas, os hóspedes não vão se incomodar com a voadora em sua porta, porque já sabem do que se trata e já sabem a encrenca que os espera, isso é Las Vegas.
Fomos para o quarto fazer o lixo que nos era esperado fazer, me enfiei em meu pijama da Guinness, havaianas, e pronto para buscar mais coca no cassino, meus companheiros respeitavam minha personalidade, gelo e coca cola para acompanhar enquanto Steve pulava na cama de meu parceiro, enquanto Debbie gritava enlouquecida, enquanto eu apreciava tudo com amor, afinal tenho muito carinho por essa gente. A festa foi adiante, a noite virou dia que virou noite. Não é sobre ser contraventor de porra de lei nenhuma, é sobre ser verdadeiro, é sobre afeto , é sobre pobres almas perdidas, carencia e respeito. Infelizmente pouca gente hoje sabe o que significa tudo isso.
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